Distopia: uma inspiração para a produção cultural da contemporaneidade

A distopia é um gênero de ficção que se concentra em sociedades futuras imaginárias. As distopias são usadas para refletir sobre as nossas próprias sociedades e questionar os rumos que estamos tomando. Elas nos permitem olhar para o nosso mundo presente com um olhar crítico e questionar as nossas escolhas para o futuro.

distopia

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As distopias são geralmente ambientadas em um futuro distante, em um mundo totalitário ou tecnologicamente avançado. Elas nos apresentam um mundo em que as pessoas vivem em constante medo ou sofrimento, onde uma instituição centralizada controla tudo.

As distopias nos mostram um lado sombrio da humanidade e nos fazem questionar o nosso próprio potencial. Por isso, vale a pena conhecer mais sobre as distopias.

A origem da distopia

Desde a Antiguidade, os seres humanos têm sonhado com um mundo perfeito, um lugar onde todos vivem em harmonia e concordância. Esse é um mundo ideal onde todas as dinâmicas sociais coexistem em harmonia.

A palavra utopia foi criada pelo escritor inglês Thomas More em seu livro do mesmo nome, publicado em 1516. A obra descreve uma sociedade perfeita em todos os aspectos, onde não existem conflitos, crimes ou problemas sociais.

A utopia de Thomas More era baseada no conceito de que a sociedade poderia ser melhorada através da educação. Ele acreditava que, se as pessoas fossem educadas de forma correta, elas se tornariam mais tranquilas e felizes.

A idéia de uma utopia permaneceu popular nos séculos seguintes, inspirando outros autores a criarem suas próprias versões desse mundo ideal. Muitos desses escritores usaram a utopia como um meio de criticar as sociedades em que viviam.

A distopia é uma versão inversa da utopia, um mundo em que tudo está errado. Essa forma de literatura cresceu e predominou durante o século XX como uma reação aos regimes totalitários, apontando seus erros e mostrando como eles podem assumir ideais errados para controlar a população para o pior.

As distopias geralmente são ambientadas em um futuro distante ou imaginário, onde as sociedades estão totalmente controladas e regidas por autoridades opressivas. Os cidadãos são privados de sua liberdade e vivem em condições miseráveis de alienação.

Exemplos de distopia na Literatura

A distopia é um gênero literário popular hoje em dia, principalmente por causa da preocupação crescente com o futuro da sociedade. Com a crescente incerteza sobre o que o futuro nos reserva, mais e mais pessoas estão se identificando com esses mundos distópicos.

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6 exemplos de distopias em obras literárias

A maioria das distopias reflete críticas sociais e são ambientadas em um futuro distante. Aqui estão 10 exemplos de distopias em obras literárias.

1. 1984, de George Orwell

Orwell escreveu 1984 como um aviso sobre o que poderia acontecer se a sociedade continuasse movendo-se na direção da tirania.

O livro segue Winston Smith, um homem que vive em um futuro distante onde a população é constantemente vigiada pelo Grande Irmão, um líder totalitário. Smith se torna amigo de Julia, outro cidadão do Estado, e os dois trabalham juntos para subverter o sistema opressivo.

2. Admirável mundo novo, de Aldous Huxley

Admirável Mundo Novo é outro livro que segue um grupo de personagens em um futuro distante. No entanto, ao contrário de 1984, que é uma crítica da tirania, Admirável Mundo Novo é uma crítica à sociedade do consumo.

A população do mundo em Huxley é constantemente adormecida com drogas e distrações, de modo a não serem conscientes das injustiças que os rodeiam.

3. Fahrenheit 451, de Ray Bradbury

Fahrenheit 451 é outra distopia que reflete críticas sociais de um mundo futuro. Neste futuro, todos os livros foram proibidos e queimados pelo governo.

Os personagens vivem em uma sociedade hiper-tecnológica, onde as pessoas são constantemente distraídas por telas e não têm tempo para o introspecção ou o pensamento crítico.

4. Ensaio sobre a lucidez – José Saramago

Saramago, com certeza, é um dos grandes expoentes da literatura portuguesa (se não, mundial) sobre distopias. Nesse exemplo, em Ensaio sobre a lucidez , José Saramago descreve uma sociedade fictícia em que a democracia é subvertida e a liberdade individual é suprimida devido a uma ação social.

A história se passa em uma cidade sem nome, onde as eleições são realizadas como de costume, mas, de repente, a maioria dos eleitores decide votar em branco. Isso causa reboliço na governança, que passa a criar uma série de conspirações contra o sistema.

A distopia de Saramago reflete o medo de que o sistema democrático possa falhar e cair em uma tirania que esmaga a liberdade individual e a dignidade humana.

5. Ensaio sobre a cegueira – José Saramago

Em Ensaio sobre a cegueira, José Saramago narra os acontecimentos de uma sociedade fictícia que é afligida por uma epidemia misteriosa de cegueira branca, uma condição que deixa as pessoas completamente cegas.

A história começa com um homem dirigindo seu carro quando é cegado subitamente. A partir daí, a epidemia se espalha rapidamente pela cidade, afetando cada vez mais pessoas. O governo decide isolar os infectados em quarentena, mas a situação logo se deteriora, pois a falta de recursos, a corrupção e a violência transformam o isolamento em uma prisão.

O livro mostra a luta pela sobrevivência em um ambiente hostil, onde as pessoas são forçadas a lutar por comida, água e outros recursos básicos. A cegueira é apresentada como uma metáfora para a falta de visão da humanidade em relação à sua própria condição, e como os instintos mais primitivos, como a ganância, a violência e o egoísmo, emergem em tempos de crise.

A distopia de Saramago é uma reflexão sobre as falhas da sociedade e as consequências extremas da falta de empatia e solidariedade. Ela apresenta um mundo onde as instituições governamentais e sociais falham em proteger os indivíduos e onde a luta pela sobrevivência leva a atitudes extremas.

A obra é uma crítica ao sistema social e político que pode se tornar corrompido e brutal em face de uma crise, destacando a importância da empatia e da solidariedade na construção de uma sociedade justa e equitativa.

6. As intermitências da Morte – José Saramago

As intermitências da Morte, de José Saramago pode ser descrito como uma distopia que imagina um mundo onde a morte, personificada como uma entidade, decide parar de matar pessoas em um determinado país.

Inicialmente, as pessoas comemoram a suspensão das mortes, mas logo percebem que isso traz consequências terríveis para a sociedade. A vida eterna começa a transformar a vida das pessoas em um pesadelo, tornando-as escravas do tempo e do envelhecimento, enquanto os recursos do país começam a ser esgotados.

As pessoas mais velhas começam a sofrer com doenças e enfermidades incuráveis, e sem a possibilidade de morrer, passam a viver em uma condição de sofrimento perpétuo. A economia do país é afetada pela ausência da morte, uma vez que as pessoas não precisam mais poupar dinheiro para o futuro, e os hospitais e as funerárias começam a enfrentar uma crise.

A distopia de Saramago reflete sobre a complexidade da vida e a importância da morte como parte fundamental do ciclo da vida. Ele critica a ideia de uma sociedade que busca incessantemente a vida eterna e a imortalidade, mostrando que essa busca pode levar a consequências terríveis e inesperadas.

O livro também aborda temas como o poder do Estado, a corrupção e a fragilidade da vida humana, mostrando como uma mudança aparentemente benigna pode ter um impacto profundo na sociedade.

Filmes de distopia que fazem críticas sociais sobre o futuro

Os filmes de distopia fazem críticas sociais do futuro e são extremamente populares. A distopia é um gênero de ficção científica que se concentra em um futuro distópico, ou seja, um futuro extremamente ruim. Geralmente, esses filmes são baseados em um mundo onde a tecnologia se tornou uma ameaça à sociedade e onde as pessoas lutam para sobreviver.

Os filmes de distopia são extremamente populares porque eles oferecem uma visão crítica do futuro. Eles mostram o que pode acontecer se as coisas continuarem como estão. Eles também nos fazem pensar sobre como podemos evitar que esse futuro se tornar realidade.

A maioria dos filmes de distopia é baseada em um mundo onde a tecnologia se tornou uma ameaça à sociedade. As pessoas lutam para sobreviver e viver em um mundo onde a tecnologia dominou tudo. As pessoas são forçadas a lutar uns contra os outros para sobreviver.

9 exemplos de distopias em séries e filmes

A maioria das distopias apresenta um controle rígido da população, a perseguição de determinados grupos de pessoas, a falta de liberdade de expressão e a repressão da individualidade. Aqui estão 10 exemplos de distopias em séries e filmes.

1. V de Vingança

V de Vingança é uma história de um homem misterioso conhecido apenas como “V” que lidera uma rebelião contra o governo da Inglaterra .

O mundo descrito em V de Vingança é dominado pelo medo, com as pessoas vivendo em constante terror do governo.

2. The Handmaid’s Tale

The Handmaid’s Tale é uma série de televisão baseada no livro homônimo de Margaret Atwood.

A história se passa em um futuro distópico em que as mulheres são privadas de seus direitos e divididas em classes. As mulheres da classe mais alta são as esposas dos homens ricos e poderosos, as mulheres da classe média são as aias das esposas e as mulheres da classe mais baixa são as servas sexuais dos homens.

A série acompanha a história de uma das servas sexuais, que luta para sobreviver e encontrar um lugar na sociedade.

3. Blade Runner

Blade Runner é um filme de ficção científica que se passa em um futuro distópico em que as pessoas vivem em cidades superlotadas e poluídas. O mundo é dominado por grandes corporações que controlam todos os aspectos da vida das pessoas.

O filme acompanha o personagem Rick Deckard, um blade runner, que é um caçador de replicantes, seres humanos artificiais criados para servirem às grandes corporações.

4. Jogos vorazes

Jogos vorazes é uma série de filmes baseados no livro homônimo de Suzanne Collins. A história se passa em um futuro distópico em que as pessoas vivem em distritos controlados pelo governo.

Cada ano, um garoto e uma garota de cada distrito são escolhidos para participar de um evento televisivo conhecido como The Hunger Games, em que eles devem lutar até a morte.

O filme acompanha a história de Katniss Everdeen, uma das participantes dos Hunger Games.

5. Divergent

Divergent é um filme baseado no livro homônimo de Veronica Roth. A história se passa em um futuro distópico em que as pessoas vivem em uma sociedade dividida em facções.

Cada facção representa um aspecto da sociedade e as pessoas são obrigadas a viver em uma única facção. O filme acompanha a história de Beatrice Prior, uma jovem que luta contra o sistema e tenta encontrar um lugar na sociedade.

6. The Maze Runner

The Maze Runner é um filme baseado no livro homônimo de James Dashner. A história se passa em um futuro distópico em que as pessoas vivem em uma sociedade controlada.

O filme acompanha a história de Thomas, um rapaz que acorda em uma sociedade a deriva de um labirinto sem ninguém ter ideia de como pararam lá.

7. The Giver

The Giver é um filme baseado no livro homônimo de Lois Lowry. A história se passa em um futuro distópico em que as pessoas vivem em uma sociedade controlada pelo governo.

O governo controla todos os aspectos da vida das pessoas, inclusive suas emoções. O filme acompanha a história de Jonas, um rapaz que é escolhido para ser o Recebedor, a pessoa que recebe e armazena todas as lembranças da sociedade.

8. Black Mirror

Black Mirror é uma série na Netflix que narra pequenos contos de ficção científica que refletem as consequências ruins que o desenvolvimento da tecnologia pode proporcionar.

9. Matrix

Um clássico da ficção científica, Matrix é um grande exemplo de como a produção cinematográfica do mundo contemporâneo se apropriou do conceito de distopia para alcançar o sucesso.

Em um futuro distante, Thomas Anderson (Keanu Reeves), um jovem programador de computador descobre que está conectados por cabos contra sua vontade e, ao rebelar-se, passa a combater o mundo das máquinas.

10. O poço

“O poço” é um filme que se enquadra perfeitamente no gênero distópico, apresentando um mundo altamente desigual e injusto, onde a sobrevivência depende do nível social de cada pessoa.

A história se passa em uma prisão vertical, composta por inúmeras celas, uma em cima da outra, e um poço central que se estende por todos os andares. Cada cela abriga duas pessoas, e em cada dia, uma plataforma cheia de comida é enviada do topo da prisão para o fundo através do poço. No entanto, a quantidade de comida disponível é limitada e a plataforma só para em cada andar por alguns segundos, deixando aqueles nos andares mais baixos com muito pouco ou nenhum alimento.

Essa falta de comida é agravada pelo fato de que os prisioneiros são posicionados aleatoriamente em diferentes níveis da prisão, sem levar em conta sua posição social anterior. Além disso, o consumo exagerado de alimentos pelos prisioneiros dos andares superiores, que muitas vezes jogam fora os restos, agrava ainda mais a situação precária daqueles que estão mais abaixo.

O filme é uma crítica contundente à desigualdade social e ao egoísmo humano. Ele apresenta um mundo onde a sobrevivência é determinada pela posição social, onde as pessoas são forçadas a lutar entre si por recursos limitados. É uma visão sombria de um futuro distópico, onde as consequências de uma sociedade desigual são levadas ao extremo.

A importância das distopias para a discussão sobre o futuro

Essas obras são importantes porque nos ajudam a questionar as nossas próprias sociedades e os rumos que estamos tomando. Elas nos permitem olhar para o nosso mundo com um olhar crítico e questionar as nossas escolhas.

No entanto, é importante notar que as distopias não são apenas para as críticas sociais. Elas também podem ser usadas como entretenimento, mesmo sem deixar a crítica de lado.

Muitas pessoas gostam de ler ou assistir a filmes distópicos porque são emocionantes e perturbadores. Elas nos permitem escapar do nosso mundo e nos transportar para um lugar totalmente diferente.

Ao mesmo tempo, é importante lembrar que as distopias são apenas ficções. Elas não são realidades, e não devemos tomá-las como verdades absolutas. Elas nos permitem olhar para o nosso mundo de uma forma diferente, mas isso não significa que devemos aceitar tudo o que elas nos dizem.

No final, as distopias são uma ferramenta importante para a crítica social. Elas nos permitem questionar as nossas próprias sociedades e os rumos que estamos tomando, sendo assim uma ótima ferramenta para o pensamento crítico.

Elas nos ajudam a entender o nosso mundo de uma forma diferente e nos fazem questionar as nossas escolhas. Se você ainda não leu nenhuma distopia, sugiro que dê uma chance a elas. Você pode se surpreender com o que elas têm a dizer.

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